Requisitos – Modelo de Kano
A maioria dos gerentes de projetos conhece a figurinha sobre gerenciamento de escopo abaixo.
Ela é famosa por ser engraçada e pelo seu fundo de verdade. Em um post anterior, defendi o escopo como sendo o mais importante no gerenciamento de projetos, o que gerou bastante discussão.
Fato é que uma grande causa de fracasso nos projetos é a falta de compreensão e de clareza nos objetivos, levando a um escopo incompleto ou mesmo incorreto.
Quando estamos coletando requisitos, precisamos observar sob a perspectiva do cliente e dos usuários. Em geral, eles não são especialistas e, portanto, vão ter dificuldade em expressar suas necessidades. O gerente de projeto e sua equipe é responsável por coletar os requisitos dos stakeholders para a Statement of Needs, documento que registra aquilo que os stakeholders desejam atingir (ou ser capazes de fazer) com o resultado do projeto.
Os requisitos passarão por uma cascata rastreável desde os stakeholders´ requirements até os component requirements, passando por systems´ requirements e architecture´s requirements em diferentes níveis de abstração. Isso já vimos nos posts sobre engenharia de sistemas.
Hoje vamos falar do modelo de Kano. Se você não conhece o modelo de Kano, pode literalmente “entrar pelo cano” quanto estiver definindo requisitos.
Trata-se de um modelo relacionado ao desenvolvimento de produtos criado por Noriaki Kano. Ele estava preocupado com a satisfação dos clientes (ou consumidores, no caso do produto) e definiu cinco categorias de preferência:
- Atrativos
- Atributos que resultam em satisfação quando totalmente atingidos, mas sua ausência parcial não causa insatisfação
- Unidimensionais
- Atributos que produzem satisfação quando presentes e que geram insatisfação quando ausentes
- Necessários
- Atributos entendidos como inerentes ao produto, sua falta produz grande insatisfação e sua presença não produz aumento na satisfação
- Indiferentes
- Atributos que não afetam a satisfação / insatisfação dos consumidores
- Reversos
- Atributos cuja presença (ou excesso) produzem insatisfação
Mas por que nós, gerentes de projetos, devemos nos preocupar com o modelo de Kano da década de 80? Simples, os consumidores valorizam determinados atributos e acreditam que outros são inerentes ao produto. Analogamente, os stakeholders dos projetos também devem ter expectativas seguindo esse padrão.
Imagine que estamos organizando um show de Jazz. No dia e local do evento, poderíamos ter como requisitos:
- Banheiros – atributo necessário
- Você já foi a um evento / show que não havia banheiros? A insatisfação deve ter sido enorme. Porém, se você for a um evento que tenha banheiros, isso não aumenta sua satisfação
- Cobertura de TV – atributo indiferente
- Em princípio, para quem está presente, tanto faz se estiverem reproduzindo o show na TV ou não (isso deve fazer diferença para quem ficou em casa e queria assistir)
- Cadeiras confortáveis – atributo unidimensional
- Se forem confortáveis, aumenta minha satisfação. Se não forem, geram insatisfação
- Cocktail – atributo atrativo
- Se houver comida e bebida durante o show, produz (grande) satisfação. Sua ausência não gera insatisfação.
- Potência do som – atributo reverso
- Se o equipamento de som for o mesmo de um show de rock, provavelmente haverá insatisfação na platéia de jazz… as pessoas querem ouvir a música num volume adequado.
O modelo de Kano nos indica qual a medida ideal para os atributos sob a ótica do cliente, usuário ou consumidor. Isso permite definir melhor os requisitos e o escopo do produto (e do projeto) para melhor performance e eficiência.
Na figura anterior, temos o eixo da percepção do cliente e o eixo da medida em que o atributo deve ser satisfeito.
Faça um exercício com um produto, enumere atributos nas categorias de Kano.
- Viagem de Avião (do ponto de vista do passageiro)
- Atrativos: maior espaço das poltronas
- Unidimensionais: serviço de bordo
- Necessários: cinto de segurança
- Indiferentes: economia de combustível
- Reversos: capacidade de passageiros
É um modelo bastante simples, ao mesmo tempo poderoso. Permite analisar diferentes pontos de vista dos stakeholders nos projetos, identificando suas expectativas e realizando tradeoffs dos interesses conflitantes para melhor performance geral. Isto é, para maior satisfação dos stakeholders. Isso é sucesso!
Sucesso de um projeto é medido pela satisfação dos stakeholders. (Hartman, 2000)
Até a próxima!