Aplicação de Atividades Hammock em Cronogramas
A Definição de hammock no Glossário do Practice Standard of Scheduling do PMI, versão 2 é:
- “hammock activity. An activity whose duration is aggregated by logical relationships from a group of related activities within the schedule model”
- (Um atividade cuja duração é agregada por relacionamentos lógicos de um grupo de atividades relacionadas dentro do modelo do cronograma)
O seu comportamento é similar ao de uma “Tarefa-Sumário” ou “Fase” em um cronograma, mas ela não descreve um pacote de trabalho e pode ser composta por atividades oriundas de diferentes pacotes de trabalho de um projeto.
Esta postagem utiliza como fonte os exercícios sobre o assunto criados em www.gestaodeprojetos.com.br/exercicios-hammock/
Cronograma Inicial
- Para o desenvolvimento desta postagem, as Atividades A, B e C representam 3 conjuntos distintos de atividades, que podem definir fases de um projeto qualquer.
- Para um projeto de software:
- A = Análise;
- B = Desenvolvimento;
- C = Implementação no cliente.
- Para um projeto de fornecimento de equipamentos:
- A = Engenharia sob encomenda;
- B = Fabricação;
- C = Fornecimento.
- Como resultado deste Diagrama de Redes, temos o Cronograma a seguir.
Aplicações para Hammocks.
- As atividades hammock são úteis para a identificação de durações que são derivadas de uma lógica presente em outras atividades. Alguns exemplos de atividades em projetos que podem se beneficiar deste tipo de atividade são – por exemplo – atividades administrativas, de canteiro de obra, de período de suprimentos, entre outras.
- Exemplos:
- Para um projeto de software, uma atividade “Gestão de Recursos de Fábrica de Software” é atrelada as Atividades A e B e define assim os custos fixos do projeto e os recursos aplicados no projeto antes de ser implementado no cliente. Se houver atrasos durante a Análise ou Desenvolvimento do software, a atividade “Gestão de Recursos” será ampliada o mesmo número de dias.
- Para um projeto de fabricação, a atividade “Reuniões periódicas de Análise de Projeto” são definidas com um calendário semanal e atreladas as Atividades A e B. Qualquer alteração no número de dias em uma destas duas atividades irá provocar a ampliação do período de reuniões periódicas e por consequência o número de eventos no calendário semanal.
- Uma das diferenças de uma hammock e o uso de uma “Tarefa-Sumário” ou “Fase” é que a hammock pode ser criada a partir da relação de atividades distribuídas em todo o projeto, mesmo que pertençam a diferentes pacotes de trabalho. A hammock também permite que se apliquem recursos específicos à atividade e que serão influenciados por variações no planejamento em toda a rede de atividades que estiver vinculada a ela.
Hammock e a preservação do Caminho Crítico Completo de um Projeto
Um objetivo “oculto” da minha postagem é o de ampliar a discussão sobre o que de fato é o Caminho Crítico em um projeto, tendo em vista que há muitos anos encontro uma divergência fundamental entre grupos de gestores de projeto e planejadores que interpretam esta importante definição de projeto de forma completamente diferentes.
O termo Caminho Crítico foi amplamente divulgado através da aplicação do Método do Caminho Crítico, embora o termo “caminho crítico” tivesse sido batizado anteriormente por outra técnica que não tem uma aplicação tão ampla como o CPM: O método PERT, cuja aplicação não será discutida aqui.
O mesmo termo passou a ser ampliado com o tempo, em especial com o entendimento sobre o impacto do uso de recursos em projetos. Temos assim o “Caminho Crítico alterado por recursos” (PMBOK, 4a edição); a “Corrente Crítica” (Goldratt) e o Caminho Crítico de Recursos (RCP – Resource Critical Path).
Em sua concepção original, o termo “Caminho Crítico” passou a ser sinônimo de “conjunto de atividades críticas em um projeto”, definidas pelo “cálculo da folga total” e tendo como principais características:
- Ser composto por atividades de folga total igual a zero;
- Ser caracterizado pela máxima “o atraso em uma atividade crítica corresponde a um atraso correspondente no projeto”.
No entanto, hoje já se compreende que há uma série de possibilidades de alteração do caminho como habitualmente é contabilizado pelo Método do Caminho Crítico, de forma com que o Caminho Crítico passa a ser “o Caminho Mais Longo de um projeto, definindo assim a duração mais curta possível do projeto, sendo caracterizado por um conjunto de atividades de “MENOR” folga.
O entendimento de que pode existir folga em atividades do caminho crítico é exposto no Guia PMBOK em sua 5a edição; no Practice Standard of Scheduling em sua segunda edição; no Manual de Referência de Cronogramas da NASA e diversas outras publicações mais atuais.
A posição que defendo, embora com contínuas críticas de uma parcela da comunidade de planejadores e gestores, tem como principais características:
1) A definição de Caminho Crítico em função da folga de atividades é importante para se identificar parte do Caminho Crítico de um projeto;
2) A definição de Caminho Crítico em função da folga de recursos é importante para se identificar outra parte deste caminho, referente as alterações do Caminho Crítico da tarefa em função da aplicação de recursos;
3) Todo projeto tem sempre um Caminho Crítico que inicia no primeiro dia e termina no último dia do projeto, composto por um ou mais caminhos críticos identificados pelos CPM ou RCP e também por certas atividades que não podem ser identificadas pela contagem da folga pelos respectivos métodos. Este conjunto é então identificado pela sequência de atividades de menor folga.
4) Uma atividade crítica não é necessariamente àquela que tem folga zero e não é a soma de atividades de folga zero que definem o Caminho Crítico, mas sim o oposto: Diz-se que uma atividade é crítica se ela pertencer ao Caminho Crítico do Projeto.
Outras definições, exemplos e explicações sobre meu posicionamento podem ser encontrados em: www.gestaodeprojetos.com.br/tag/caminho-critico/
Exemplo Prático – Caminho Crítico do Projeto com folga.
1) O Caminho Crítico do Projeto para o exemplo deste POST é definido por todas as suas atividades;
2) O Caminho Crítico calculado tem um total de 30 dias e todas as atividades neste exemplo tem folga inicial igual a zero;
3) O Caminho Mais Longo do Projeto é – portanto – definido por A + B + C.
E se temos uma restrição externa imposta ao projeto? Faz realmente sentido que o Caminho Crítico deixe de ser o caminho mais longo?
Supondo uma necessidade do cliente final que obrigue a equipe de projeto a atrasar o início da atividade C:
- Para um projeto de software, o cliente pode impor uma data certa para a implantação do software. Esta data pode ser posterior à data prevista no cronograma pela lógica do próprio projeto.
- Para um projeto de fornecimento de equipamentos, a disponibilidade de um local físico para receber os equipamentos manufaturados pode impor um deslocamento da data prevista no cronograma.
Exemplo Prático – Data imposta pelo cliente altera a atividade C para que não possa a acontecer antes de 30/08/2014.
- Cronograma alterado
- Observações:
- A restrição de data externa imposta pelo cliente estabelece um “Caminho Crítico Partido” somente entre: Restrição > C > FIM
-
Em A > B temos parte do Caminho Crítico Original, mas a restrição externa do cliente representa uma “folga” entre o término de B e início de C;
Resultados encontrados
Apesar da imposição de uma data externa em função de uma necessidade do projeto, o cronograma original continua sendo composto exclusivamente pelas atividades A, B e C e estas, por consequência, continuam expressando o “Caminho Mais Longo do Projeto e o caminho que expressa a menor duração possível do Projeto”.
Assim, embora pelo cálculo previsto pelo Método do Caminho Crítico a única atividade com folga total igual a zero ser a Atividade C, o Caminho Crítico do Projeto é a soma de dois caminhos existentes neste projeto modificado:
- Caminho 1: Início > Atividade A > Atividade B > Restrição Externa;
- Caminho 2: Restrição Externa > Atividade C > Fim.
Em (1), a diferença de datas entre a Restrição Externa e a Atividade B define que o Caminho 1 possui uma folga total de 10 dias.
Em (2), a aplicação do cálculo pelo Método do Caminho Crítico irá identificar que C tem uma folga total igual a zero.
Cronogramas comparados
A marca em laranja identifica a alteração de datas da Atividade C, que foi postergada para depois da restrição externa. O novo cronograma agora possui uma duração total de 40 dias, embora a duração efetiva das atividades permaneça com 30 dias.
Aplicação de Data Limite
Partindo da premissa de que o projeto é exatamente o mesmo e que o Caminho Crítico do Projeto permanece inalterado, pode ser muito útil para a equipe de projeto fixar uma data limite para a realização das atividades A e B. Assim, independente da necessidade do cliente, a equipe deverá perseguir as datas originais previstas no cronograma original.
- Uma data limite em B irá “recuperar” a representação de que A > B fazem parte do Caminho Crítico;
- Assim, junto da restrição externa aplicada à Atividade C para identificar uma necessidade de cumprimento de datas para o cliente, colocamos uma data de restrição (data limite) para a Atividade B, identificando a necessidade de cumprimento de datas para o próprio projeto.
Resultados encontrados
Com a inclusão da data limite, estamos evidenciando à necessidade de considerarmos todas as atividades do cronograma original como “atividades críticas”, anulando assim a folga entre os dias 21 e 30 produzida pela inclusão de uma restrição externa pelo cliente.
Caminho Crítico do Projeto
- Considerando a definição de que o Caminho Crítico do Projeto é a união de diferentes caminhos críticos necessários e que sempre começa no primeiro dia do projeto e termina no último dia, temos um “Gap/Lacuna” entre os dias 21/08/2014 e 30/08/2014.
- O uso de uma hammock ligando as atividades B e C permite:
- Explicitar o Caminho Crítico Completo do Projeto;
- Demonstrar que há uma flexibilização de prazo entre B e C (folga).
No Diagrama de Redes
Resultado no Cronograma
Considerações gerais
O uso da hammock estabelecendo um relacionamento entre um conjunto de atividades do caminho crítico original que passaram a ter “folga total” em decorrência da aplicação de restrições externas demonstra que todo projeto deve sempre possuir um “Caminho Mais Longo que determina a menor duração possível do projeto”, independente da técnica adotada.
Esta hammock criada no exemplo configura – portanto – um pulmão/reserva de projeto que pode ser utilizada para identificar a quantidade de dias que as primeiras atividades de projeto poderão atrasar sem um impacto direto no prazo total do projeto.
Se fosse colocada uma atividade do tipo “duração” entre B e C para expressar o período de folga, qualquer atraso nas atividades A e B iriam ocasionar um atraso desta nova atividade e – por consequência – do projeto como um todo. A hammock permite visualizarmos corretamente o Caminho Crítico sem causar danos ao cálculo geral do projeto, tendo em vista que a hammock é sempre o resultado da lógica das atividades a ela relacionada, ampliando ou reduzindo o pulmão do projeto como consequência de antecipações ou atrasos em A ou B.
Hammock (resumo)
-
Hammocks são atividades de aplicação especial cujo comportamento é o de sofrerem alteração de duração em função do relacionamento com outras atividades.
-
A duração da hammock é – portanto – calculada pelo software em função de uma (ou mais) atividades que determinam o início da hammock e uma (ou mais) atividades que determinam o final da hammock.
-
Se existir antecipação das atividades que determinam o início da hammock, ela será antecipada proporcionalmente.
-
Se existir postergação das atividades que determinam o início da hammock, ela será postergada proporcionalmente.
-
Se existir antecipação das atividades que determinam o término da hammock, ela será reduzida em sua duração, proporcionalmente.
-
Se existir antecipação das atividades que determinam o término da hammock, ela será aumentada em sua duração, proporcionalmente.