Modelo de Avaliação da Eficiência Estratégica – MAEE
INTRODUÇÃO
O Modelo de Avaliação da Eficiência Estratégica (MAEE), traz uma abordagem auxiliar para o gerenciamento de portfólio, programas e projetos que tem como cerne a mensuração e a garantia da criação de valor intrínseco aos objetivos do planejamento estratégico da organização.
Diferenciando-se das metodologias tradicionais que se concentram estritamente em custo e cronograma, o MAEE tem como base o conceito de geração de valor estratégico, auxiliando os gestores a avaliarem a contribuição do portfólio, programa ou projeto para os objetivos estratégicos.
O modelo emprega um sistema de mensuração robusto, utilizando o Índice de Valor de Resultado (IVR) para quantificar o progresso das entregas na construção das capacidades e o Índice de Valor Estratégico (IVE) para avaliar a contribuição final e direta dos benefícios aos objetivos estratégicos da organização.
O MAEE, por meio do Índice de Desvio Estratégico (IDE), transforma a avaliação de portfólios, programas e projetos de uma abordagem centrada em entregas para uma abordagem centrada em Qualidade da Performance Estratégica (Nível Sigma), fundamental para o controle da variância e a gestão da excelência.
Para garantir a mensuração quantitativa desse alinhamento, o MAEE integra princípios do Processo de Hierarquia Analítica (AHP) e da filosofia Six Sigma.
METODOLOGIA
A essência do MAEE reside na conexão entre as entregas de uma iniciativa e o seu impacto na geração de capacidades. Este alinhamento é a ponte entre a operação e a estratégia.
A avaliação MAEE segue uma lógica de cascata: os objetivos estratégicos da organização são traduzidos em iniciativas que realizam entregas e estas geram capacidades, que, por sua vez, geram benefícios que impactam os objetivos estratégicos.
O MAEE utiliza indicadores-chave que, quando combinados, oferecem uma visão holística do desempenho:
Índice de Valor do Resultado (IVR): é um indicador de execução que mede o progresso na conclusão de cada entrega e seu impacto na geração de capacidades organizacionais. Essa relação, por sua vez, é o meio pelo qual os benefícios esperados serão alcançados. O indicador responde à pergunta: “O quanto do trabalho de execução que deveria ter sido feito, foi de fato concluído, considerando que a conclusão das entregas gera capacidades e que a relação entre entregas e capacidades é o que viabiliza os benefícios esperados?”
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Componente |
Definição |
Importância |
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IVR Apurado |
Progresso do resultado alcançado. É calculado pelo produto do PE (Peso das Entregas) pelo Peso das Capacidades (PC). |
Representa o esforço real aplicado |
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PIVR – Performance de Resultado |
É o somatório dos IVR Apurado |
Essencial para o cálculo do IDE |
Índice de Valor Estratégico (IVE): é um indicador de sucesso estratégico que valida se os resultados estão, de fato, gerando valor e contribuindo para a geração dos benefícios esperados.
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Componente |
Definição |
Importância |
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IVE Apurado |
O valor estratégico real gerado até o momento da medição. É calculado pelo produto do IVR pelo Peso Estratégico do Benefício (PB). |
Representa o esforço real aplicado |
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PIVE – Performance de Valor |
É o somatório dos IVE Apurado |
Essencial para o cálculo do IDE |
Índice de Eficiência Estratégica (IEE): no contexto da avaliação orientada para a eficiência estratégica, a utilização de índices compostos como o PIVR (Performance do Índice de Valor de Resultado) e o PIVE (Performance do Índice de Valor Estratégico) permite mensurar, de forma integrada, o desempenho técnico e estratégico das entregas. A razão entre esses dois indicadores — PIVR/PIVE — emerge como um importante parâmetro de análise da eficiência estratégica da execução.
Definições
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PIVR: representa a soma dos IVRs Apurados, ou seja, o desempenho das entregas ponderado pelas capacidades organizacionais e ajustado pelo grau de execução física de cada entrega.
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PIVE: representa a soma dos IVEs Apurados, ou seja, o desempenho das entregas ponderado pelos benefícios estratégicos esperados, também ajustado pela execução física.
Ambos os índices são calculados com base em matrizes de comparação pareada (AHP), utilizando pesos normalizados e percentuais de execução, o que garante coerência metodológica e comparabilidade direta.
Interpretação da Razão PIVR / PIVE
A razão entre PIVR e PIVE pode ser interpretada como um indicador de eficiência estratégica da execução técnica:
IEE = PIVR / PIVE
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PIVR > PIVE: indica que o esforço técnico (capacidades mobilizadas) está mais avançado do que o retorno estratégico percebido. Pode sinalizar desalinhamento entre execução e valor.
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PIVR < PIVE: indica que mesmo com menor esforço técnico, as entregas estão gerando alto valor estratégico. Isso sugere eficiência na priorização e alocação de recursos.
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PIVR ≈ PIVE: indica alinhamento equilibrado entre execução técnica e geração de valor estratégico.
Índice de Desvio Estratégico (IDE): transforma a avaliação de portfólio, programas e projetos de uma abordagem centrada em entregas para uma abordagem centrada em Qualidade da Performance Estratégica (Nível Sigma), fundamental para o controle da variância e a gestão da excelência.
IDE = 1 – ( PIVR / PIVE )
Interpretação dos Resultados do IDE (Índice de Desvio Estratégico)
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Resultado do IDE |
Interpretação |
Implicação |
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IDE ≈ 0 |
PIVR ≈ 1 PIVE ≈ 1 |
Qualidade da Performance Ideal. Alta previsibilidade. O projeto executa conforme o planejado, entregando o valor esperado. |
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IDE > 0 |
PIVR ou PIVE distante de 1,0 |
Desvio da Qualidade. O esforço ou o valor estão aquém ou além do esperado, comprometendo a aderência ao plano. |
ESCALAS DE MENSURAÇÃO
O MAEE utiliza o Analytic Hierarchy Process (AHP) e uma adaptação da escala de Saaty para traduzir avaliações qualitativas em medidas quantitativas. Essa abordagem é complementada pela filosofia Six Sigma, que garante a precisão e a confiabilidade das medições, permitindo que o método minimize a variabilidade e maximize a qualidade dos resultados entregues, assegurando uma mensuração precisa do valor.
Escalas de avaliação AHP
Os valores adotados nesta seção são baseados na escala fundamental de Saaty (1980) do Analytic Hierarchy Process (AHP), uma técnica matemática utilizada para auxiliar na tomada de decisões complexas. A escala original de 1 a 9 foi concebida para quantificar a preferência relativa entre pares de itens, convertendo julgamentos humanos (como “pouco importante” ou “muito importante”) em números. Ao adaptar a escala para a mensuração de valor em projetos, esses valores assumem os seguintes significados:
Escala Fundamental de Saaty (1980) do Analytic Hierarchy Process (AHP)
A escala avalia a importância de um resultado de negócio para a realização de um objetivo estratégico.
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Valor |
Nível de Importância |
Justificativa no Julgamento |
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1 |
Igual Importância |
Os dois elementos contribuem igualmente. |
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3 |
Importância Moderada |
Um elemento é ligeiramente mais importante que o outro. |
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5 |
Importância Forte |
Um elemento é fortemente mais importante que o outro. |
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7 |
Importância Muito Forte |
Um elemento é demonstrado ou comprovadamente mais importante. |
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9 |
Importância Extrema |
A evidência em favor de um elemento sobre o outro é de certeza. |
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2, 4, 6, 8 |
Valores Intermediários |
Usados quando o julgamento fica entre dois níveis de importância. |
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Recíproco (1/n) |
Importância Recíproca |
Usado quando o segundo elemento é o mais importante. |
Os “Níveis Sigma” são níveis de alinhamento
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Nível (σ) |
IDE / Tolerância |
Classificação |
Alinhamento Estratégico |
Justificativa Mandatória |
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6 σ |
[0,999966; 1,000034] |
Excelência Máxima |
O resultado atinge o objetivo com a máxima confiabilidade. |
Desvio negligenciável. Padronizar o processo como Best Practice. |
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4 σ |
[0,99379; 1,00621] |
Alinhamento Forte |
O objetivo é atingido, mas com variabilidade significativa. Risco gerenciável. |
Desvio gerenciável. Monitoramento contínuo. |
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3 σ |
[0,9332; 1,0668] |
Alinhamento Aceitável |
O objetivo é atingido com alto custo, desperdício ou retrabalho. Resultado vulnerável. |
Desvio próximo ao limite. Exige plano de ação corretiva. |
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< 3 σ |
< 0,9332 ou > 1,0668 |
Desalinhamento Crítico |
Atingir o OE é aleatório e insustentável. A iniciativa não é capaz de entregar o OE. |
Desvio inaceitável. Reestruturação ou cancelamento. |
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— |
> 1.0668 |
Desvio Técnico Negativo |
Objetivo atingido com uso excessivo de recursos. |
Execução técnica acima do valor gerado. Repriorizar entregas, revisar benefícios, otimizar esforço. |
Em vez de medir a qualidade de um produto físico, os níveis avaliam a “qualidade do alinhamento” do portfólio, do programa ou do projeto com o planejamento estratégico. Uma iniciativa no nível “Sigma 6” (relação igual a 1) é aquele que atinge o alinhamento perfeito, sem desvios entre o esforço e o valor.
Essa abordagem permite a visualização, em tempo real, se o portfólio, o programa ou o projeto está no rumo certo, não apenas em termos de andamento, mas de real contribuição para os objetivos estratégicos. É uma forma robusta de transformar dados quantitativos em uma linguagem de gestão estratégica, garantindo que os recursos da empresa sejam alocados onde realmente geram valor.
O Índice de Desvio Estratégico (IDE) é a métrica central que classifica a Qualidade da Performance do portfólio, programa ou projeto em Estágios Six Sigma.
O MAEE define o alvo ideal de performance (1,0) como a média de controle. O IDE mede o desvio em relação a esse alvo (IDE = |1 – P|). A correlação entre o IDE (em percentual) e o Nível Sigma é baseada na aplicação dos limites de tolerância estatísticos padrões da filosofia Six Sigma (DPMO – Defects Per Million Opportunities).
O MAEE adota o desvio percentual que corresponde aos limites de controle laterais (3σ, 4σ e 6σ) em um processo estatisticamente controlado, transformando o desvio estratégico em uma métrica de qualidade e previsibilidade do projeto. Um IDE maior que 6,68% (Limite de 3σ) indica que a performance está fora dos limites mínimos aceitáveis de controle estatístico, exigindo ação imediata e drástica.
A matriz a seguir vincula o desvio medido à decisão de governança, tornando a intervenção não opcional, mas mandatória.
CONCLUSÃO
O Modelo de Avaliação da Eficiência Estratégica (MAEE) não é apenas uma nova ferramenta de gestão; ele representa uma mudança de paradigma fundamental na forma como as organizações encaram o valor de seus programas, projetos e investimentos. Ao integrar o rigor do planejamento estratégico, a objetividade do Processo de Hierarquia Analítica (AHP) e a filosofia de melhoria contínua do Six Sigma, o MAEE transcende as limitações das métricas tradicionais de custo e cronograma.
A verdadeira inovação do MAEE reside em sua capacidade de quantificar o alinhamento estratégico, tornando visível o que antes era intangível. Através da relação PIVR/PIVE e o IDE, os gestores agora podem diagnosticar, com precisão, se o esforço de execução está, de fato, se convertendo em valor para a organização. Essa métrica, que funciona como um termômetro da saúde estratégica do projeto, permite a tomada de decisões proativas e baseadas em dados, evitando o desperdício de recursos em iniciativas desalinhadas.
A aplicabilidade e adaptabilidade do MAEE são suas maiores forças. Ele pode ser implementado em qualquer nível da organização, do projeto individual ao portfólio completo, criando uma cadeia de valor coesa e garantindo que cada iniciativa, por menor que seja, contribua para os objetivos de topo. Ao capacitar a liderança executiva com uma visão holística e orientada para o valor, o MAEE se posiciona como um catalisador de crescimento e competitividade sustentável.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
-
SAATY, Thomas L. The Analytic Hierarchy Process. New York: McGraw- Hill, 1980.
-
PYZDEK, Thomas; KELLER, Paul. The Six Sigma Handbook. New York: McGraw-Hill Education, 2014.
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OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). AAP-20 Edition C Version 1: NATO Programme Management Framework (NATO Life Cycle Model). Bruxelas: OTAN, 2015.